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História da Lotus

A Lotus é, nos dias de hoje, uma das marcas de carros mais conceituadas que existe, com um currículo invejável de conquistas no ramo do desporto motorizado e carros desportivos com aptidões incríveis, especialmente em curva. Foi fundada em 1948 por um senhor chamado Colin Chapman (também conhecido como o Adrian Newey do seu tempo), um engenheiro com um fascínio por carros de corrida, e que começaria as suas aventuras na Fórmula 1 apenas 10 anos depois, em 1958, e conseguiu obter um número bastante respeitável de 7 campeonatos de construtores. Mesmo sem participar no desporto há quase uma década, continua com um registo impressionante, sendo vista como uma das marcas mais bem-sucedidas no desporto, equiparável à Williams, McLaren ou Mercedes (que recentemente igualou a Lotus no número de títulos).

Todos os carros feitos pela Lotus, quer para desporto motorizado, quer para o público, seguem o mítico lema dito por Chapman, “simplificar e adicionar leveza”. Este lema ajuda a descrever os carros da Lotus em geral, carros muito ágeis e com o mínimo de distrações e equipamento, de modo a que os carros sejam leves e que o centro de gravidade fique o mais perto do chão possível.

O primeiro carro de estrada a ser vendido pela Lotus seria o Seven, sobre a forma de kit para contornar o sistema fiscal britânico em matéria de  bens de luxo, significando que se uma pessoa quisesse usufruir da experiência de condução pura que a marca oferecia, ela teria de montar o carro primeiro, isto para o grande encanto dos fanáticos de Legos e para a grande frustração dos mais impacientes.

Lotus Seven S2 (1962)

A marca eventualmente percebeu que era capaz de ser maçador o cliente ter de montar o carro que acabou de comprar, e decidiu vender os seus próximos carros, o Elite e o Elan, já montados. A Lotus adotou assim o método “mega vanguardista” de montarem eles os seus próprios carros, tal como todas as outras marcas…

No que toca ao Elan, foi um carro desportivo com um grande nível de sucesso em corridas e é um dos mais respeitados da sua geração, por causa da sua agilidade e peso de 680 Kg, o mesmo peso que 3 pessoas norte americanas. O seu design também atingia um ponto “mesmo em cheio” entre o simples e o elegante.

Lotus Elan (1966)

No fim dos anos 60 e no início dos anos 70, a Lotus venderia os direitos do Seven à Caterham (que ainda fabrica o carro hoje) e faria o seu primeiro carro de motor central, o Europa, inicialmente apenas vendido na Europa. Foi este o carro que definiu a identidade da Lotus, uma marca com especialidade em carros ágeis de motor central.

Lotus Europa (1971)

Por volta deste período, a Team Lotus também já tinha alcançado 3 títulos de construtores na Fórmula 1 e ajudaram Jim Clark (2 vezes), Graham Hill e Jochen Rindt a ganhar os seus respetivos campeonatos de pilotos. Todos estes pilotos possuem um grande nível de consideração pelos mais entendidos da modalidade.

Jim Clark (que não vai a 60) num Lotus-Climax 33 – Grande Premio da França 1965

No meio da década de 70 a Lotus iria introduzir o modelo mais icónico e mais duradouro da marca, o Esprit, que foi produzido entre 1976 e 2004 com 11 versões diferentes ao longo dos anos e seria também o submarino de eleição para James Bond no filme “007: O espião que me amava”. A história de como o Esprit acabou como um Bond car é algo de espantosa. Como a Lotus, naturalmente, queria que o próximo Bond car fosse um Lotus, o responsável pelas relações publicas da marca decidiu estacionar um protótipo Esprit à porta dos estúdios onde os filmes eram produzidos, isto para tentar atrair a atenção das pessoas aquele carro invulgar e elegante. Este senhor também se deu ao trabalho de tapar todas as partes do carro que diziam Lotus para despertar ainda mais curiosidade sobre o carro. Depois de estacionado o carro, ele ausentou-se durante um bocado até à hora do almoço e quando se aproximou do carro, tinha uma multidão à volta do seu precioso carro, e teve de nadar no meio da maré de pessoas que se tinha formado em torno do seu Esprit apenas para entrar no carro e ir-se embora sem dizer uma única palavra sobre o que atraiu a multidão em primeiro lugar. Depois dos dirigentes dos filmes descobrirem que o carro era um Lotus Esprit, entraram de imediato em contacto para o utilizarem no filme.

Lotus Esprit (1976)

Entretanto, no meio disto tudo a equipa de Fórmula 1 tinha somado mais 3 títulos de construtores e 2 de pilotos até 1976, tornando-a a mais bem-sucedida de sempre e na altura com 6 mundiais de construtores em seu nome. A Lotus também iria popularizar o efeito de solo em carros de Fórmula 1 poucos anos depois.

Lotus 79 com efeito de solo (1978)

Mas depois vieram os anos 80, onde a Lotus passou por grandes dificuldades. A marca estava falida e obrigou a Lotus a reduzir a produção de carros para um terço, tudo por causa da recessão da economia, principalmente nos Estados Unidos que se tinha tornado o mercado mais importante para a marca. E, em dezembro de 1982, Colin Chapman infelizmente faleceu vítima de um ataque cardíaco, deixando para trás uma Lotus altamente bem-sucedida (agora com 7 títulos de Fórmula 1), mas à beira do colapso financeiro. A questão financeira seria eventualmente resolvida com a ajuda de alguns acionistas, um deles o atual presidente da JCB, algo tão curioso como engraçado já que os Lotus são exatamente o oposto dos JCB que, para quem não é familiar com esta marca, fabrica escavadoras e equipamento para construção.

Mesmo depois da morte de Chapman, a Fórmula 1 continuou a ser a especialidade da marca. A equipa, ainda com grandes aspirações a títulos, contrataria um piloto que começava a dar muito nas vistas para a temporada de 1985, Ayrton Senna. Mas com o virar da década, a falta de Chapman começou a ser sentida na parte técnica, e nenhum título foi alcançado mesmo com Senna na equipa, e a equipa acabaria por falir em 1995 quando já tinha sido renomeada para Pacific Racing em 1994.

Pacific PR01 (1994)

Mas com esta infelicidade veio algo mais risonho. Em 1996 seria lançado o Lotus Elise, outro carro icónico que se tornou a “cara” da Lotus durante muitos anos, com a agilidade característica da marca e que vai atualmente na terceira geração.

Lotus Elise (1996)

Com o virar do milénio seria introduzida a segunda geração do Elise, o Exige (versão do Elise mais focada em pista), e em 2008 o Evora (diz-se Evôra, e não Évora, não tendo nenhuma relação com a cidade). O nome Lotus também regressaria à Fórmula 1 dois anos depois, mas estranhamente com duas equipas, e ninguém consegue realmente entender ou explicar o “como” desta situação. Ambas as equipas, entretanto deixaram de estar associadas à Lotus, com uma a tornar-se Caterham e a falir em 2014, e a outra a dar lugar à Renault em 2016.

Lotus T128 (2011) – que se tornaria Caterham

Lotus Renault R31 (2011) – Que se tornaria Renault

Com o mundo a virar-se para os carros elétricos, a Lotus anunciou em julho de 2019 que ia fazer um hipercarro totalmente elétrico, com produção a começar em agosto deste ano. O carro irá ter uns bíblicos 1970 cavalos e um motor por roda, humilhando qualquer multimilionário no seu Bugatti. Infelizmente, e tal como o Bugatti, pesa o mesmo que a serra de Sintra (com os monumentos incluídos).

Lotus Evija (2019)

O Evija demonstra-nos que a Lotus, apesar de possuir uma história rica e estar repleta de sucesso subestimado, está preparada para finalmente chamar à atenção do publico e dos seus rivais diretos como o gigante que acordou do seu grande sono depois de desaparecer da Formula 1 e estar apenas “reduzida” a fazer carros desportivos excecionais e igualmente subestimados. Esperemos que a Lotus continue a escrever mais capítulos cativantes para os anos que se seguem.

 

Outros carros relevantes:

Alguns carros que a Lotus ajudou a desenvolver:

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